TSUNAMI aproximando da costa - Imagem da Wikimedia Commons - Veitmueller |
Autor: Prof. Jorge Paes Rios - Mestre em Recursos Hídricos pela Universidade de Grenoble - França.
Ano: 2004.
Todos sabem [quem não sabia ficou sabendo agora] que a Tsunami é um fenômeno normal na natureza e essa última de 2004, no Oceano Índico, com apenas 10 metros de altura não foi, nem será, a maior que já aconteceu. A conhecida erupção do Cracatoa gerou uma tsunami de 50 m de altura.
Alguns dizem que a maior tsunami que deixou algum vestígio na Terra foi aquela causada pelo meteoro que impactou o Golfo do México gerando uma onda de 1.000 m de altura.
Outra onda famosa foi a que resultou da explosão do vulcão existente em Santorini, na Grécia, que partiu a ilha ao meio, e que teria acabado com a antiga cidade de Alexandria e só recentemente estudada pelos arqueólogos e geólogos.
Como todo evento natural [ enchentes, terremotos, furacões, avalanches, tornados, erupções vulcânicas, etc...] a tsunami pode ser estudada estatisticamente pelo homem, que inventou a estatística [depois os políticos aliados aos economistas inventaram como mentir com a estatística] .
Sendo assim, o pior evento está sempre por acontecer ainda que a probabilidade seja pequena.
Assim é que no Pacífico a ocorrência de tsunamis com ondas de 100 m de altura é calculada para um período de recorrência de 1.000 anos e, evidentemente, para ondas maiores diminui a freqüência de ocorrência aumentando a probabilidade para ondas menores.
Eu , particularmente, não sei quais as probabilidades de ocorrência no Oceano Índico, apesar de já ter freqüentado suas praias mas na época não estava nem preocupado com isso.
Por exemplo, um estudo estatístico fixa em 60% a probabilidade de ocorrer o famoso terremoto chamado de "The Big One" na Califórnia nos próximos 40 anos. É lógico [lógica estatística] que quanto mais tempo se passar mais próxima fica a provável data de ocorrência. Assim como é lógico [lógica física] que o número de mortos deverá ser enorme, pois as pessoas sempre acham que não vai ocorrer com elas e por isso [falta de lógica] continuam construindo naquele local condenado "a priori" apesar das probabilidades de ocorrência do evento serem altas. O agricultor sempre volta a habitar as encostas férteis dos vulcões mesmo sabendo que vão ocorrer outras erupções.
Devemos, portanto, distinguir bem entre o fenômeno natural e as conseqüências do mesmo, causadas muitas vezes pelas inconseqüências dos homens. Saturnino de Brito diz em seu livro sobre controle de enchentes: " Todos chamam os rios de violentos mas ninguém acusa de violentos os homens que comprimem suas margens com suas construções."
Recentemente, no verão de 2004, num curso de Hidrologia, no Clube de Engenharia e também no CEFET-RJ, mencionei o fato de que devido a situação das encostas, bastaria uma chuva excepcional para termos desastres com vítimas fatais em Angra dos Reis e em Teresópolis. Na semana seguinte ocorreram chuvas fortes em Angra que mataram cerca de 80 pessoas. Enviei um e-mail para os alunos dizendo que só faltava Teresópolis, pensando em ocorrências anuais. Para azar da população uma chuva forte ocorreu logo na semana seguinte na serra de Teresópolis com mais umas dezenas de mortos. Não é preciso bola de cristal para prever o que vai acontecer toda vez que chover forte na Baixada Fluminense, por exemplo, onde parte da população vive no que eu chamo literalmente de Holíndia, abaixo do nível do mar como na Holanda e com infra-estrutura igual ou pior do que a da Índia.
A estudada e conhecida enchente de 1966 tida como a maior dos últimos cem anos que arrasou a Cidade do Rio de Janeiro e causou, além das mortes, graves transtornos e prejuízos à população causaria, nos dias de hoje, efeitos muito mais devastadores devido ao aumento da ocupação desordenada do ambiente urbano. Nesse caso não adianta nem rezar, pois a próxima cheia acontecerá, queiram ou não os políticos, pois se trata de fenômeno normal da natureza. Só nos resta calcular a freqüência e o período de recorrência respectivo.
A tsunami de 2005 que atingiu vários países da Ásia nos remete à famosa polêmica entre Voltaire e Rousseau, após o terremoto de Lisboa, em 1775, que matou cerca de 25% da população da cidade. Isto correspondeu, na época, a cerca de 60.000 a 75.000 mortes numa única onda que invadiu o estuário do rio Tejo. Atualmente, com a ocupação urbana contínua da margem direita do Tejo, de Cascais à Vila Franca de Xira, passando por Lisboa e ainda da margem oposta com Cacilhas e arredores, o desastre em número de mortos seria muito maior para a mesma altura de onda de cerca de 30 metros. Não é à toa que, de vez em quando, eu me assustava mesmo com pequenos tremores de terra quando eu lá morava em Paço d'Arcos, Concelho de Oeiras, próximo ao Estoril, à beira do dito cujo rio. Da mesma forma ficava assustado quando, trabalhando na belíssima República Dominicana, era obrigado a ficar monitorando pela televisão a aproximação e a trajetória de um furacão.
Rousseau, na famosa polêmica com Voltaire, corretamente isenta a mãe natureza, ao dizer que "não foi a natureza que, numa área relativamente exígua, reuniu 20.000 casas de seis ou sete andares no centro de Lisboa".
Como disse um jornalista sobre a natureza: "Podemos imputar vários adjetivos à mãe natureza, mas gentil não é um deles. Termos que a definem melhor são: bruta , amoral e indiferente" .
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